O CHOPP GENUINAMENTE ARTESANAL DE GUAXUPÉ
- Da Redação
- 26 de fev. de 2024
- 9 min de leitura
MARCO ANTONIO ZERBINI FILHO, O ENGENHEIRO QUE TRANSFORMOU CERVEJA ARTESANAL EM TURISMO NA CIDADE

Por Rosângela Felippe, jornalista
Nascido em Guaxupé, Marco Antonio Zerbini Filho foi gerado em duas famílias tradicionais: Zerbini e Felippe da Silva. Seus pais, Lia Carmen Monteiro da Silva Zerbini e o saudoso Marco Antonio Zerbini (o popular Zoinho), também geraram Maria Lia, Francisco e Maria Luiza. Uma família sempre unida pelo amor e pela amizade entre todos. Casado com Bianca Victoria Rotondo, o casal tem uma filha cuja vivacidade encanta a todos. Seu nome é Cecília Rotondo Zerbini, hoje com cinco anos de idade.
Marco Antonio, ou Marquinho para muitos, é formado pela escola Dante Aligheri, em SCOC, na cidade de Ribeirão Preto, e pela USP/ESALQ, em Engenharia Agronômica.
De olhos abertos para negócios, ele descobriu a cerveja como meio de realização profissional e que fabricar cerveja artesanal é mais do que uma arte, é ciência. Atualmente, é considerado um dos melhores cervejeiros da região que circunda Guaxupé pelo sabor e pela qualidade do seu produto artesanal.
Nesta entrevista, ele relata detalhes de sua conquista e de sua dedicação pela fabricação da turística Sucuri. Antes de se ingressar no setor cervejeiro, quais foram suas ocupações profissionais? Iniciei minha carreira em uma empresa que avaliava terras para obtenção de financiamento bancário. Minha trajetória profissional levou-me ao Mato Grosso para trabalhar na área comercial em uma multinacional (Stoller) onde conheci diversas cidades, incluindo Campo Novo do Parecis. Inicialmente, tive a impressão de que era uma cidade desafiadora para se viver. Mas ao longo do tempo, percebi o quanto essa experiência enriqueceu minha vida e carreira. ei por diferentes regiões, como o Vale do Araguaia, Rondonópolis, Primavera do Leste, Lucas do Rio Verde e Tangará da Serra. Cada localidade contribuiu para o meu desenvolvimento profissional e pessoal e, por último, retornei a Campo Novo do Parecis onde percebi que, muitas vezes, nossas primeiras impressões podem não refletir completamente à realidade. Essa jornada ensinou-me a não subestimar as oportunidades que surgem em lugares que inicialmente não consideramos ideais.
De que forma a Stoller Brasil colaborou com seu desenvolvimento profissional e o inspirou para montar seu próprio negócio, a cervejaria Sucuri? A multinacional Stoller, especialista em biologia, fisiologia e nutrição vegetal, foi fundada por Jerry Stoller na América do Norte. Há 50 anos, instalou-se também no Brasil onde atua com diversas filiais, inclusive no Mato Grosso onde pude dedicar-me ao cargo de Engenheiro Agrônomo Comercial. Essa empresa desempenhou um papel crucial em minha vida profissional, pois, foi fundamental para minha compreensão de mercado, habilidades de vendas e o atendimento a clientes. E foi na Stoller que conheci minha esposa Bianca.

Em que momento lhe ocorreu que a produção das cervejas artesanais seria um investimento promissor?
Foi logo após eu me desligar do cargo na Stoller. Ao tentar retornar ao setor agrícola em outras empresas, percebi que o Agronegócio já não fazia mais sentido para mim. Considerando diferentes opções, pensei em abrir um food-truck devido ao meu interesse pela culinária, mas isso também não parecia ser minha verdadeira paixão. Foi quando estabeleci três metas pessoais: reformar meu fusca, reformar minha casa velha de praia e realizar um sonho que surgiu enquanto morava na Austrália - o de produzir cervejas. Inicialmente, um amigo no Mato Grosso concordou em se associar ao projeto. Contudo, ele acabou desistindo e Bianca encorajou-me a seguir adiante. Decidi-me, então, a liderar o empreendimento e estabeleci a cervejaria artesanal a qual denominamos Sucuri.
Segundo as estatísticas, atualmente no Brasil, são registradas cerca de 1.730 cervejarias sendo predominantes nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Qual foi a motivação que o levou a montar sua primeira fábrica no estado do Mato Grosso?
A motivação inicial para montar a primeira fábrica no estado do Mato Grosso surgiu de a oportunidade de minha esposa continuar trabalhando na mesma empresa em que estávamos, enquanto eu buscava empreender como empresário individual. A escolha do Mato Grosso não foi planejada inicialmente, mas sim uma decisão prática, pois já estávamos na região. Embora o estado apresentasse desafios, como a carência de serviços e logística mais complicada, conseguimos crescer junto com o movimento cervejeiro local.
Em quais aspectos as cervejas convencionais diferem das artesanais?
As cervejas artesanais diferem das convencionais em vários aspectos. O charme do processo artesanal envolve o aprimoramento cuidadoso de cada receita, o lançamento constante de novos produtos e a interação direta com os clientes. Na produção artesanal, estamos mais próximos do consumidor, entendendo suas preferências e adaptando nossas criações de acordo. Participar de eventos, criar rótulos vibrantes e inovar são partes integrantes da magia da cerveja artesanal. Além disso, a qualidade dessas cervejas tende a ser significativamente superior, proporcionando uma experiência única. A evolução do paladar no Brasil, com a compreensão de off flavors e características desejáveis em diferentes estilos, reflete uma mudança positiva. Estamos continuamente educando nossos clientes, introduzindo-os ao mundo autêntico e diversificado das cervejas artesanais.
Recentemente, você transferiu a fabrica da Sucuri de Mato Grosso para Guaxupé, sua terra natal. O que o levou a tomar essa iniciativa?
Ao considerar a expansão para Guaxupé, Minas Gerais, levamos em conta não apenas a qualidade de vida, mas também a proximidade com grandes centros como Ribeirão Preto, Campinas e São Paulo, o que proporcionava o a um mercado mais próspero. A mudança para Guaxupé trouxe benefícios adicionais, como a redução do tempo de entrega de matéria-prima e uma logística mais eficiente, e a melhor parte, a família!
Segundo se define, o mestre cervejeiro é o maestro de todo o processo de produção. Mas para os leigos, tudo pode parecer muito simples. A idéia de muitos é a de que um cervejeiro artesanal apenas prepara suas receitas de modo fácil e rápido. Mas como é de fato a sua rotina dentro de todo o contexto?
Sim, ser um mestre cervejeiro vai além de simplesmente preparar receitas. Minha rotina envolve um processo minucioso desde a escolha dos ingredientes até o acompanhamento da fermentação e o controle de qualidade. Além de criar e aprimorar receitas, também gerencio aspectos logísticos, como aquisição de matéria-prima e distribuição dos produtos. A manutenção do equipamento, a análise constante do mercado e a interação com os clientes são partes essenciais do meu dia a dia. Ser um mestre cervejeiro é um equilíbrio entre paixão pela criação de cervejas excepcionais e a gestão eficiente de todos os aspectos do negócio.
Você tem feito cursos e se aperfeiçoando constantemente. Aprender a fazer cerveja artesanal é um grande desafio?
Sim, tenho buscado constantemente me aprimorar. Leitura é uma parte importante, tenho vários livros, e ganhei um presente da minha irmã Luiza sobre lúpulo, o qual foi muito revelador. Agora, estando próximo a São Paulo, estou planejando realizar mais cursos. Recentemente, inscrevi-me em um curso ministrado por Beto, da Cervejaria Trilha, que foi muito prestativo. Ele compartilhou insights valiosos quando considerávamos a mudança para São Paulo em vez de Guaxupé. Apesar de termos decidido ficar em Guaxupé, suas orientações foram essenciais para a tomada de decisão. O custo de vida elevado em São Paulo foi um fator determinante em nossa escolha.
O que vem a ser exatamente o lúpulo?
O lúpulo, um ingrediente crucial na fabricação de cerveja, tem uma rica história que remonta ao século XII, quando uma mistura de ervas chamada gruit era predominante. A transição para o lúpulo como conservante e aromatizante ocorreu por volta de 1150, mencionada no livro Physica pela monja alemã Hildergada de Bigen, destacando a influência fundamental das mulheres na história cervejeira. Em 1268, o rei Luís IX da França desempenhou um papel decisivo ao determinar que a cerveja deveria ser feita apenas com lúpulo e malte, uma estratégia para minar o monopólio do gruit mantido pelos católicos e, assim, reduzir o poder e a influência da Igreja. O lúpulo não apenas confere sabor, aroma e amargor à cerveja, mas também atua como um agente antibacteriano essencial para preservar a bebida, inibindo o crescimento de bactérias indesejadas. Controlar a quantidade precisa de lúpulo na receita exige conhecimentos específicos, incluindo a escolha da variedade, safra, terroire o momento de adição durante o processo de fabricação e técnicas como o dryhopping. A precisão na dosagem é crucial para alcançar o equilíbrio desejado entre amargor, aroma e sabor. Em termos simples, a forma como o lúpulo é manipulado, seja fervido para mais amargor ou adicionado no final da fermentação para extrair aromas, influencia diretamente o perfil final da cerveja. Evitar extremos, como excesso de amargor sem corpo, é essencial para uma cerveja harmoniosa.
Alguns estudiosos sugerem que cerveja faz bem ao organismo humano. Segundo consta, ao saborear a bebida absorvemos fibras solúveis, polifenol, magnésio, selênio, potássio, fósforo, crômio e vitaminas do complexo B. Portanto, quais as responsabilidades mais relevantes que um mestre cervejeiro assume durante a preparação da cerveja para que ela seja pura e segura à saúde?
As responsabilidades mais relevantes de um mestre cervejeiro para garantir que a cerveja seja pura e segura à saúde incluem a seleção de ingredientes de alta qualidade, como malte, lúpulo, água e levedura, para garantir a pureza e a integridade dos componentes da cerveja. Além disso também devemos manter padrões rigorosos de higiene em todas as etapas do processo de produção, desde a preparação dos ingredientes até o envase, para prevenir contaminações indesejadas. O monitoramento da fermentação também é importante para que não haja crescimento de microrganismos indesejados. Podemos citar também a importância de conhecer e seguir as normas e regulamentações locais e nacionais relacionadas à produção de cerveja e as boas práticas de fabricação, ao implementar boas práticas de fabricação em todas as áreas da cervejaria para garantir a segurança do produto final como, por exemplo, por questões de segurança, nossa fábrica optou por não utilizar dietilenoglicol, um líquido refrigerante previamente adotado por outras cervejarias. Optamos pelo uso de álcool etílico potável. Atualmente, para o registro no MAPA, é imperativo comprovar o uso desse álcool, prevenindo possíveis complicações em caso de vazamentos. Ao adotar essas práticas, o mestre cervejeiro contribui para a produção de cervejas de alta qualidade, puras e seguras para o consumo, considerando sempre a saúde dos consumidores.
É sabido que seu produto foi largamente aceito pelo gosto dos guaxupeanos. Até quem não tem o hábito de ingerir cerveja afirma que é saborosa e diferente. Há quem diga que a Sucuri já se tornou atração turística na cidade tamanha a procura. Além de ter um ponto fixo para servi-la, tem sido distribuída em grandes eventos e consumida até a última gota. O que essa conquista representa em sua vida neste minucioso e extenuante trabalho?
A aceitação calorosa da Sucuri pelos guaxupeanos é uma fonte de grande satisfação. O fato de pessoas que não são tradicionalmente consumidores de cerveja elogiarem a qualidade e singularidade da Sucuri é um testemunho da nossa dedicação à excelência. A transformação da Sucuri em uma atração turística na cidade é um marco significativo, refletindo o sucesso do nosso trabalho minucioso. Ter um ponto fixo e participar em grandes eventos, onde a Sucuri é consumida até a última gota, é uma prova tangível de como a cerveja se tornou parte integrante da experiência local. Essa conquista representa mais do que um sucesso comercial; é o reconhecimento da nossa capacidade de criar algo especial que ressoa na comunidade. Este trabalho minucioso e extenuante, embora desafiador, é gratificante ao vermos a satisfação dos consumidores. A busca constante por aprendizado e a priorização do cliente têm sido os pilares do nosso êxito. Agora, com a ambição de sermos reconhecidos nacionalmente, almejamos levar a Sucuri a São Paulo, buscando conquistar novos paladares e consolidar nossa presença em um nível ainda mais amplo.
Cerveja é companheira da alegria e em toda e qualquer festividade está presente. Você tem fama de ser uma pessoa carismática, alegre e muito receptiva. Marco Antonio Zerbini Filho e cerveja, portanto, formam um par perfeito. Você está sempre muito positivo e confiante nos bons resultados do seu trabalho. Acredita que seu temperamento lhe ajuda a ter boas inspirações para desenvolver as excelentes fórmulas da Sucuri?
Com certeza! A alegria, receptividade e otimismo não apenas contribuem para um ambiente positivo com a equipe, mas também são catalisadores poderosos no processo criativo. A paixão pela cerveja e o desejo de criar experiências memoráveis impulsionam a busca por excelentes fórmulas da Sucuri. O uso de ingredientes locais, combinado com a crença no potencial do trabalho e uma atitude positiva, desempenha um papel fundamental na inovação e desenvolvimento contínuo das nossas receitas. Essa abordagem reflete não apenas na qualidade do produto, mas também na conexão especial que a Sucuri estabelece com os consumidores.
Sua esposa Bianca, com quem você teve uma filhinha chamada Cecilia, tem sido seu braço direito em todas as circunstâncias. Qual a importância do amor de sua família em seu caráter lutador e persistente?
O amor da minha família, especialmente da Bianca, é fundamental no meu espírito lutador e persistente. Ela desempenha um papel crucial, cuidando das áreas do negócio que não são minha especialidade, como o lado digital, controle dos números, precificação e marketing. Sua dedicação e habilidades complementares permitem que eu foque na minha paixão pela cerveja, enquanto ela gerencia os aspectos práticos do negócio. O apoio e parceria da minha família são verdadeiros alicerces para enfrentar os desafios e perseverar no mundo empreendedor.
Onde se pode tomar a cerveja Sucuri em Guaxupé e assistir a sua atuação dinâmica, sorridente e acolhedora como Mestre Cervejeiro Artesanal?
Você pode saborear a nossa cerveja em diversos pontos em Guaxupé, especialmente no nosso ponto fixo Rua Paulo Ribeiro do Valle 490, Japy, onde convido todos a desfrutarem da experiência Sucuri. Além disso, a cerveja também está disponível em grandes eventos na cidade. Estou sempre ansioso para compartilhar minha paixão pela cerveja e proporcionar momentos alegres e acolhedores. Fiquem atentos às nossas redes sociais para informações sobre eventos e novidades da Sucuri! Saúde!
(Rosângela Felippe)